ATA DA VIGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 30-9-2003.

 


Aos trinta dias do mês de setembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a assinalar o transcurso dos cem anos da chegada dos Frades Menores Capuchinhos em Porto Alegre, nos termos do Requerimento nº 137/03 (Processo nº 3764/03), de autoria do Vereador Juarez Pinheiro. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Frei Luiz Sebastião Turra, Ministro Provincial dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul; o Frei Irineu Costella, Definidor Provincial dos Capuchinhos; o Irmão Avelino Madalozzo, representante do Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; o Tenente-Coronel João Batista Neto, representante do Comando Militar do Sul; o Capitão-de-Fragata Carlos Alberto Vargas Martins, representante do 5° Distrito Naval; o Senhor Orlando Ortega, Cônsul Honorário da Colômbia; o Vereador Juarez Pinheiro, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Juarez Pinheiro, como proponente da presente homenagem, historiou acerca da chegada dos Frades Menores Capuchinhos ao Estado, em mil oitocentos e noventa e seis, e a Porto Alegre, em mil novecentos e três, salientando o trabalho desses religiosos em prol do desenvolvimento da sociedade gaúcha, principalmente nas áreas de educação e saúde, e declarando ser esse trabalho marcado por uma filosofia embasada na evangelização e na promoção do ser humano. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença do Deputado Estadual Dionilso Marcon e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PP, discorreu sobre a aceitação popular obtida pelos Frades Menores Capuchinhos, integrantes da Primeira Ordem Franciscana, aludindo à filosofia de vida seguida por essa Ordem, norteada pelo exemplo de pobreza, humildade, austeridade e alegria evangélica deixado por São Francisco de Assis e mencionando obras de assistência social desenvolvidas no Município por esses religiosos. A Vereadora Maristela Maffei, em nome das Bancadas do PT e do PSB, registrou a presença dos frades capuchinhos nas lutas populares por melhores condições de vida, afirmando que a história de São Francisco de Assis está muito ligada à realidade social e à luta pela dignidade humana, Nesse sentido, chamou a atenção para a força representada pela fé no dia-a-dia das pessoas, como meio de apoio e agente motivador do ser humano em seus momentos de crise. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Freis Luiz Sebastião Turra e Irineu Costella, que destacaram a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre aos Frades Menores Capuchinhos. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou saudações enviadas pelo ex-Vereador Hermes Dutra aos Frades Menores Capuchinhos. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e cinqüenta e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Juarez Pinheiro, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Juarez Pinheiro, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a comemorar os 100 anos da chegada dos Frades Menores Capuchinhos em Porto Alegre. Compõem a Mesa o Frei Luiz Sebastião Turra, Ministro Provincial dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul; o Frei Irineu Costella, Definidor da Província dos Capuchinhos; o Irmão Avelino Madalozzo, representante do Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; o Tenente-Coronel João Batista Neto, representante do Comando Militar do Sul; o Capitão-de-Fragata Carlos Alberto Vargas Martins, representante do 5º Distrito Naval; o Exmo. Sr. Orlando Ortega, Cônsul Honorário da Colômbia. Saúdo a presença do Ver. Juarez Pinheiro, proponente desta Sessão Solene.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

É justa a homenagem proposta pelo Ver. Juarez Pinheiro para comemorar os 100 anos da chegada dos Frades Menores Capuchinhos em Porto Alegre, aprovada por unanimidade por esta Casa.

Mas quando falam nos Capuchinhos, lembro de uma figura extraordinária: o Frei Pacífico.

Frei Pacífico era muito amigo da minha mãe, Dona Júlia, que, há pouco mais de três anos, faleceu.

Mas a minha mãe contava, e cansei de ouvir a história do fato estranho que ocorreu quando o meu irmão mais moço nasceu, em Vacaria, e, depois de algum tempo, não havia sido batizado, e ele foi declarado morto. E a minha mãe, católica, libanesa, teimosa, disse que ele tinha de ser batizado. E o Frei Pacífico disse que não poderia batizar um menino morto. E esse menino, minha mãe disse que ninguém o tiraria de seus braços se ele não fosse batizado. Terminou concordando que o Frei Pacífico fizesse o sinal-da-cruz sobre ele.

E, feito o sinal-da-cruz, o meu irmão chorou! Esse fato a minha mãe contou várias vezes. Eu tinha 3 anos na época, e não poderia lembrar, mas, quando o Frei Pacífico foi para o Leprosário, ele mandou um cartão para a minha mãe, relembrando o estranho fato ocorrido em Vacaria, onde o Frei havia feito o sinal-da-cruz, e o meu irmão, dado como morto, reviveu.

Mas, de qualquer forma, ele sempre ficou na memória de todos nós, da minha família, como uma pessoa bondosa, caridosa, e que demonstrou tudo isso quando foi cuidar dos leprosos no sanatório.

Mas convidamos, neste momento, o Ver. Juarez Pinheiro, proponente da homenagem, para que faça uso da palavra, homenageando os 100 anos dos Capuchinhos em Porto Alegre.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhores e senhoras, uma cidade pode ter a sua marca através de suas belezas geográficas, de seus atrativos naturais que Deus lhe tenha doado. E Porto Alegre, nesse sentido, é uma Cidade muito bonita. Temos talvez o pôr-do-sol mais bonito do mundo; temos o lago ou rio Guaíba – aí há uma divergência -, temos inúmeros atrativos.

Uma cidade também se marca muito pelos seus filhos, por aqueles que nascem nessa cidade e que depois a cidade oferece à sociedade, através de seus trabalhos e de suas realizações. Nesse sentido, Porto Alegre é pródiga em pessoas que deram uma colaboração imensa a este Estado e a este País. Mas uma cidade tem verdadeiramente alma quando há ação, durante o tempo em que essas pessoas fazem uma obra. E a história de Porto Alegre jamais poderá ser contada se nós não contarmos a história dos capuchinhos, que há 100 anos aportaram em nossa Cidade.

A relevância do tema e a importância histórica que ele tem, que fazem com que esta Casa faça uma Sessão Solene para homenagear essa congregação, nos impele, até um pouco contra a vontade, Frei Irineu – eu tive até de comprar um óculos, porque eu nunca faço discurso lendo, eu sempre faço de improviso; mas eu tinha uma responsabilidade histórica e preferi, com os dados que recebi dos freis, fazer aqui algo escrito para, como Vereador que propõe com muita honra e com muita emoção esta homenagem, poder registrar nos Anais desta Casa, tão bem presidida pelo Ver. João Antonio Dib, este momento histórico para a Cidade.

Peço vênia, então, para ler o discurso.

Neste ano de 2003, completam-se 100 anos de dedicação dos frades Capuchinhos ao povo de Porto Alegre. Nada poderia, neste momento, ser mais justo do que esta Casa prestar, em nome da Cidade, a merecida homenagem a estes que, sem nunca pedir nada, tanto deram a Porto Alegre.

Para dar o sentido a esta homenagem, queremos, em rápidas palavras, recordar algumas passagens desta história que muitos de nós desconhecem, mas que é uma parte importante da história do povo de Porto Alegre.

Os primórdios da presença dos Capuchinhos em nosso Estado remontam a 1737, quando participaram da fundação da cidade de Rio Grande. Mas foi em 1896 que chegaram da França os primeiros Capuchinhos para atender pastoralmente os imigrantes italianos, dando início a um trabalho permanente em nosso Estado.

A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos inicia-se em 1525 por Mateus de Bascio como um ramo da Ordem Franciscana. Desde essa origem, os Capuchinhos se caracterizam pela humildade, dedicação, austeridade e abnegação. Adotaram um traje com capuz, que acreditavam fosse o de São Francisco de Assis. Rejeitaram os grandes conventos, e, advogando a santa pobreza, aceitavam como esmola apenas o indispensável para sobreviver. Sempre viveram em modestíssimos conventos e usaram trajes paupérrimos. Por isso rapidamente conquistaram o coração do povo e ganharam imensa força na pregação.

É importante que se diga que esta filosofia da Ordem, se por um lado, foi muito bem recebida pelo povo, por outro, foi muitas vezes entendida como uma quase transgressão. Essa incompreensão, algumas vezes criou obstáculos dificultando o trabalho dos dedicados Capuchinhos, quando, de fato, era um transbordar de ações da fraternidade e dos frades para além da material execução das tarefas propostas.

Neste ano comemoramos o Centenário dos Capuchinhos em Porto Alegre, porque em 1903 a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, pela sua competência, cultura e grande dedicação, é convidada a assumir a direção do Seminário da Diocese do Rio Grande do Sul em nossa Cidade.

O Seminário torna-se um espaço de reflexão cristã e filosófica e de formação de um importante grupo de líderes cristãos. Em 1912, Frei Bruno, através do embaixador do Brasil, junto à Santa Sé, Bruno Chaves Barcelos conseguiu para o Seminário de Porto Alegre o direito de conferir o título de Bacharel em Teologia. Estava criada a primeira Faculdade de Teologia.

A formação do Seminário seguiu normas prescritas pela Igreja e pela Diocese, sempre com adaptações e inovações que muitas vezes foram vistas como transgressão pelo bispo da época. Diante de algumas iniciativas de cerceamento, a resposta dos Frades Capuchinhos foi sempre a de que é preferível fazer mais do que o simplesmente prescrito; mas esse “mais” inquietava, porque cheirava a modernismo, dito mundanismo, resultante da demasiada integração e abertura do Seminário a seus alunos, à comunidade e à sua elite pensante.

Em 1913, o Seminário passa, então, às mãos dos jesuítas, por determinação do arcebispo, mas o trabalho da Ordem já estava enraizado em nossa Cidade e seguiu com muita firmeza.

Esse período na direção do Seminário da Diocese consolidou uma relação direta e o compromisso tácito dos Capuchinhos com a formação do clero sul-rio-grandense, que sempre foi muito apreciada e reconhecida pelo clero por eles formado.

A vinda dos Capuchinhos a Porto Alegre para dirigir o Seminário Diocesano ensejou a aquisição de uma chácara ao lado da Capela Santo Antônio do Partenon, que logo passou aos Capuchinhos por razões de proximidade, sendo fartamente atendida pelos professores do Seminário, e constituída em paróquia em 1912.

O impulso missionário fez com que os Capuchinhos assumissem novas frentes de trabalho em comunidades paroquiais que foram sendo constituídas; vieram São Judas, São Jorge, São Luiz, São Francisco, São José do Murialdo e Divino Mestre.

Além do benefício direto, o empenho dos Frades Capuchinhos propiciou a vinda das Irmãs de São José e dos Irmãos Maristas franceses, que assumiram em nossa Cidade importantes ações educativas e assistenciais em escolas, asilos, hospícios e hospitais.

Outra marca importante, sempre presente no trabalho dos Capuchinhos em nossa Cidade foi a preocupação com a educação; percebendo-se da necessidade de mais educadores em escolas, lideram a vinda dos Irmãos das Escolas Cristãs - os lassalistas, onde tive toda a minha formação de primeiro e segundo grau, com muita honra -, que fundam, em Porto Alegre, o Colégio Nossa Senhora das Dores, e o Colégio Santo Antônio do Partenon.

Os doentes sempre receberam cuidados especiais; os Capuchinhos atenderam ao Hospital Psiquiátrico São Pedro, aos Sanatórios Belém Velho e Partenon, e, com grande coragem para a época, ao Hospital para hansenianos de Itapuã e o Amparo Santa Cruz para filhos de hansenianos. Essa dedicação aos doentes continua até hoje e se estende aos hospitais São Lucas, Clínicas, Mãe de Deus, Ipiranga e Instituto do Coração.

Os Capuchinhos também deram uma contribuição decisiva para o desenvolvimento cultural e científico de nossa Cidade, sendo suficiente referir a participação do Frei Pacífico, já citado pelo nosso Presidente, como um dos fundadores do Instituto Católico de Filosofia, Ciências e Letras, que está na origem da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

A par da contribuição em diferentes esferas da vida social e cultural da nossa Cidade, os Capuchinhos desenvolvem um importante trabalho de evangelização, tanto por intermédio de meios de comunicação social – e eles têm o ás que todos conhecem, o cidadão de Porto Alegre já nominado, e distinguindo-se também nas Edições EST, da Escola Superior de Teologia – quanto da inserção em pequenas comunidades nas periferias da Cidade. Trabalho que sempre conjuga a evangelização com a promoção do ser humano, como vemos no belíssimo trabalho da “Casa Fonte Colombo”, de Promoção da Pessoa Soropositiva – HIV.

Essa trajetória demonstra que, desde a primeira hora, os Capuchinhos, além de atenderem aos ministérios propostos pela Igreja local, foram sensíveis a desafios da sociedade organizada, bem como a segmentos mais esquecidos da população de nossa Cidade.

Ao traçar esse pequeno esboço da história da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em Porto Alegre, destacamos alguns fatos e alguns nomes. Mas, para sermos justos, teríamos de relatar e citar muitos outros, pois esta é uma das mais belas histórias que a Cidade tem para contar. É uma das mas belas histórias que nossa Cidade tem para se contar, pois essa é parte importante da história de Porto Alegre, da história que fez a nossa Porto Alegre ao longo dos 100 anos.

Portanto, o nosso objetivo não era o de fazer historiografia, nem mesmo tínhamos a pretensão de fazer justiça ao imenso manancial de fraternidade, que há 100 anos os Frades Capuchinhos vertem em nossa Cidade, pois isso seria impossível, na medida em que não existem palavras a altura de tanto.

Queríamos e esperamos ter conseguido, dar uma pequena demonstração da importância e do sentido desta homenagem, e dizer, em nome de todo o povo de nossa Cidade: muito obrigado, de coração!

A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos é uma luz que há 100 anos brilha em Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Honra-nos com a sua presença o Deputado Dionilso Marcon, que representa nesta ato a Assembléia Legislativa.

O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sr. Eduardo Grigolo, escritor do livro “Nanetto In Strada”, que é o símbolo de todo imigrante que veio para a América; meu ilustre cidadão de Porto Alegre Frei Rovilio Costa; Frei Arlindo Battistela, escritor e autor do livro “Polenta e Liberdade”; querida conterrânea Vera Santroviski Castro; amigo Marco Aurélio Bernardi.

(Lê.) Prestamos, nesta oportunidade, uma justa e merecida homenagem aos 100 anos da chegada dos Frades Menores Capuchinhos em Porto Alegre, motivada por solicitação do ilustre Vereador Juarez Pinheiro, a quem cumprimento e louvo pela iniciativa, meus parabéns.

Sabem todos que, a cada vez que esta Casa presta homenagem semelhante a uma das ramificações da Igreja Católica, a que tenho a graça de pertencer, meu coração se enche de alegria, pois tais homenagens são a resposta cristalina e agradecida do povo, através de seus legítimos representantes no Legislativo, é um agradecimento à dedicação que a Igreja lhe consagra.

Não há ocasiões especiais, como a de hoje, em que à alegria se somam, exacerbados, a comoção, o entusiasmo e um renovado estímulo à caminhada pela conquista do bem comum.

Pois tenho particular apreço pelos Capuchinhos, aos quais tanto admiro.

Nem todos sabem que os Capuchinhos são uma das três grandes famílias da Primeira Ordem Franciscana, sendo sua criação, em 1525, fruto do anseio por um maior rigor na vida religiosa, por uma volta ao genuíno espírito de São Francisco e dos seus primeiros companheiros.

Desde o início, os Capuchinhos tornaram-se muito populares, pois souberam encarnar maravilhosamente o estilo de vida de São Francisco, pobre e humilde, todo repassado de simplicidade, austeridade e alegria evangélicas!

E foi o próprio povo que, devido à forma do capuz de seus hábitos, passou a chamá-los de Capuchinhos.

Dedicaram-se, desde o início, à pregação popular e ao cuidado dos doentes, sobretudo das vítimas da peste, permanecendo sempre fidelíssimos ao espírito de contemplação.

A austeridade da sua vida, bem caracterizada pela barba crescida e pelos pés descalços, era suavizada pelo encanto seráfico da sua pobreza heróica e jubilosa.

As páginas mais gloriosas da história dos Capuchinhos, no mundo inteiro, têm sido constituídas pela pregação popular e pela atividade missionária.

As missões populares, em que tanto se notabilizaram, foram caracterizadas pelo fervor e pela simplicidade, animadas pela coragem e valentia com que apelavam à conversão, socorrendo-se de procissões penitenciais e representações sagradas.

Pois foram esses homens, foram esses religiosos que aportaram ao Rio Grande do Sul há cem anos!

E aqui foram responsáveis por um trabalho inspirado, que os levou a assumirem uma relação direta e a um compromisso tácito com a formação do clero rio-grandense, como também a serem responsáveis pela formação e consolidação de paróquias e pela fundação de importantes escolas católicas em Porto Alegre.

Muitas outras obras importantes são resultantes da ação dos Capuchinhos: a Conferência Vicentina, o Leprosário, o Amparo Santa Cruz e outros.

E tudo o que aqui realizaram – e ainda realizam - está impregnado, até seu âmago, da mais pura devoção cristã e de uma espiritualidade que se pode definir como uma síntese feliz de austeridade, de alegria, de contemplação e de apostolado popular.

Em razão disso é que nada peço a Deus para os Capuchinhos, diretamente. Mas Lhe peço, sim, que dê ao povo de Porto Alegre a felicidade de ter os capuchinhos sempre ao seu lado, na sempre fiel observância do mandamento cristão e no cumprimento de seu carisma especial. Parabéns. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Maristela Maffei está com a palavra.

 

A SRA. MARISTELA MAFFEI: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero também saudar o Sr. Wilson Lírio, de Canoas, e tantos outros que aqui estão. Confesso estar, mais uma vez, profundamente realizada, porque nós, cristãos, sabemos que lá, na antiga Roma, na decadência romana, na invasão dos bárbaros, foram os cristãos que praticaram e exercitaram a unificação desses dois povos.

E também não podemos esquecer que foram os cristãos os primeiros a abrir o espaço à participação das mulheres na esfera pública. E, com certeza, tem a ver, também, com esta Vereadora estar aqui, porque a história tem uma caminhada e chega aqui neste momento; a história tem uma caminhada, tanto que nós estamos, hoje, festejando este momento tão importante.

Sabe, Ver. João Antonio Dib, nosso Presidente, me emocionei quando V. Exa. contava aquela história. E não é uma história estranha, ao contrário, foi uma dádiva de Deus, foi a mão de Deus, portanto, não é uma história estranha. Porque quantos de nós estamos mortos e só encontramos a vida quando nós encontramos, na luz do Espírito Santo, no Evangelho, realmente, a nossa forma de trilhar a vida.

Particularmente, fui batizada por um frei franciscano, lá em Campo Branco, no interior de Lajeado, de Progresso, o falecido Frei Constantino. E eu conto sempre essa história porque é importante a história da vida da gente. E, depois, fui reencontrar, Ver. Juarez Pinheiro, os franciscanos lá na Lomba do Pinheiro, e confesso que, ali, renasci para a vida, porque foi na luta da organização social, foi nas comunidades eclesiais de base – há várias pessoas aqui presentes, as Irmãs que conhecem e construíram essa história – que fundamentaram um olhar para aquelas pessoas que não se inseriam em outro espaço dentro da Igreja Católica - foi nas comunidades eclesiais de base. Eu tenho certeza absoluta - e não tenho medo de errar – de que, se ainda há comunidades eclesiais de base, como aconteceu em Canoas no domingo – e lá estava o nosso companheiro Dionilso Marcon - e existe porque os companheiros Capuchinhos estão lá realizando e continuando essa história, fazendo com que, no cerne dos princípios da nossa Igreja Católica, permaneça essa luz também, que possibilita o diálogos com essas comunidades. Tenho certeza disso.

E, quando nós estamos muito fracos, quando a gente se sente muito mal, um pouco cansado, onde é que nós encontramos a força? E aí eu me lembro de Francisco. Tenho certeza de que Francisco, hoje, se sente um pouco triste, quando ouve nas notícias, nos meios de comunicação, por exemplo, a liberação dos transgênicos. E eu fiz uma comparação por que, Ver. João Antonio Dib, meu Presidente? Porque Francisco ama a natureza, natureza pura, semente, dádiva de Deus! Não pode estar na mão de uma multinacional! Tenho certeza de que Francisco vai nos iluminar, iluminar os poderosos deste mundo e compreender o que está sendo dito aqui! Porque Francisco sempre amou a natureza, natureza pura, mãe! E lembro de Maria. Maria, que dá a mão para os seus filhos, quando a gente está muito enfraquecido para continuar. “Vai, segue! Se tu és a imagem e a semelhança de Deus...” Nossa! E a gente é tão pequeno, mas é uma partezinha disso, tão importante! Como vai parar? Temos de continuar, somos parte, somos segmentos dessa realidade!

Então, quando nós estamos comemorando 100 anos dessa luta, dessa história tão importante, nós continuamos na luta da transformação. E homenagear, Frei Irineu Costella, os capuchinhos é homenagear essa história dos cristãos, essa história que começou, que veio e que, hoje, nos diz muito. E que se hoje nós temos a esperança de que cada cidadão, cada cidadã deste País encontre o seu vigor de dizer: “Eu amo a minha Pátria, eu amo o meu País, eu sou parte da história, eu não passo apenas por ela, eu construo, com certeza, sem medo de errar também...”, os franciscanos, os capuchinhos tiveram muito a ver com isso, porque a história de Francisco está muito ligada à realidade que nós vivemos hoje: amar a todos. Enquanto houver um ser que morre de fome, nós estaremos lutando por eles. Todos! Independente de Partido! Nós queremos construir esta vontade: de não vender a nossa Pátria! De amar a nossa Pátria! De fazer com que os valores da família - que é o cerne da nossa sociedade - sejam constituídos com todos! E que os homens e as mulheres não morram de fome. Deus, Jesus, Maria, Francisco! A imagem e a semelhança de Deus...! Não pode haver um irmão, uma irmã passando fome.

Eu quero encerrar, dizendo: se hoje nós podemos afirmar que já conseguimos resgatar muito dessa dignidade, isso tem a ver com a história dos Capuchinhos! Tem a ver com o resgate da dignidade! Com o resgate da família! Com o resgate da soberania! E a soberania para todos, identificados no Divino Espirito Santo! Porque é ali que nós buscamos a força, a clareza e a convicção!

Por isso, Ver. Juarez Pinheiro, obrigada por esta possibilidade de estarmos aqui reunidos.

Eu também não poderia deixar de registrar – falo também em nome do PSB - que o Ver. Carlos Alberto Garcia gostaria de estar aqui, mas está dando aula. Ele também quer compartilhar com todos vocês esta benção deste momento.

Em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, estou muito honrada por me identificar profundamente com essa Congregação, e, com certeza, poder dormir todas as noites, colocar a cabeça no travesseiro, rezando a Ave-Maria, rezando o Pai-Nosso, e lutando, cada vez mais, pela liberdade dos povos, pela liberdade de princípios, e pela unidade. E a liberdade passa, sim, e, nós cristãos temos essa responsabilidade de que haja pão, Vereador! Pão, Frei Irineu! Pão, meu companheiro Edmilson, na mesa de todas e todos! Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): E, agora, teremos o prazer e a honra de ouvir a palavra do Frei Luiz Sebastião Turra, Ministro Provincial dos Capuchinhos no Rio Grande do Sul.

 

O SR. FREI LUIZ SEBASTIÃO TURRA: Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara, Ver. João Antonio Dib, estimados irmãos, irmãs, autoridades mencionadas no protocolo e, de maneira muito especial, o Vereador-Proponente desta homenagem, Juarez Pinheiro. Gostaria muito que, neste momento, de maneira muito familiar e muito informal, a minha palavra fosse também a palavra de toda a Fraternidade Provincial exatamente nesta semana em que estamos comemorando o Dia de São Francisco de Assis, nosso Pai Seráfico, inspirador do nosso carisma, da nossa vida e da nossa missão.

Senhor Ver. Juarez Pinheiro, queremos agradecer, de coração, não tanto pela homenagem, mas, acima de tudo, pela sábia provocação que o Senhor está-nos fazendo. Uma provocação de reconhecimento da história dos nossos frades aqui em Porto Alegre. Dessas presenças que jazem, muitas, no silêncio, mas que estão muito vivas no testemunho, nas obras e, acima de tudo, pela vivência do Evangelho que impregnou muito da cultura da nossa Região. Quero mencionar aqui as raízes de nossa Província, que são os nossos fundadores franceses. Realmente, Ver. Juarez Pinheiro, para nós é uma provocação de reconhecimento. O reconhecimento que não é, diria, apenas um olhar de honra para nós, mas uma provocação para prosseguirmos no caminho e isso é também um incentivo. Neste ano de 2003, a nossa Província tem como lema, como frade capuchinho, dar a melhor resposta em cada etapa da vida. Nós, aqui dentro, temos frades venerandos, passando dos oitenta, e temos frades jovens também, mas todos nós empenhados, dentro da nossa idade, a dar a melhor resposta e essa certamente é também inspirada naquela resposta que os nossos antepassados, os nossos pais da Província deram aqui em Porto Alegre.

Para finalizar a minha parte, eu quero dizer que essa provocação que nós sentimos chega, exatamente, em boa hora, porque nós precisamos olhar para os outros cem que estão pela frente, os outros cem que estão, eu diria, começando em nossas mãos, mas que precisam, também, ser embalados por uma motivação muito grande, que leve à frente esse Projeto já iniciado nos outros cem, para que possam ser melhores, porque uma história verdadeira nunca pode ser uma repetição, ela precisa ser qualificada com as gerações que chegam. Por isso, nós queremos, mais uma vez, dizer um obrigado a todos, pela presença, pelo apoio, pelo incentivo, pela valorização da nossa história. Este acontecimento, esta celebração, para nós, certamente, é uma grande bênção de Deus, para que assumamos, realmente, o nosso carisma tão rico que Francisco nos passou nas suas raízes e que foi assumido com tanto carinho pelos nossos confrades. Muito obrigado, Ver. Juarez Pinheiro, obrigado a todas as autoridades, aos irmãos e irmãs aqui presentes por este dia. Tenho certeza de que este momento vai marcar as festas de São Francisco, neste ano de 2003, para todos nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O ex-Vereador, que foi meu Secretário de Governo, quando Prefeito, Hermes Dutra, pediu que eu transmitisse os seus cumprimentos aos Capuchinhos. Os Capuchinhos sabem que Hermes Dutra gosta muito deles.

Agora, nós vamos ter a palavra do Frei Irineu Costella, Definidor Provincial dos Capuchinhos. Eu não permitirei que o Frei Irineu saia desta Casa sem que ele dê uma bênção, não só a todos nós aqui presentes, mas a todos os cidadãos porto-alegrenses em especial.

 

O SR. FREI IRINEU COSTELLA: Ilmo. Sr. Presidente da Câmara, João Antonio Dib; demais integrantes da Mesa; meus caros Vereadores; Ver. Juarez Pinheiro, amigo e proponente desta homenagem; Ver. João Carlos Nedel e Ver.ª Maristela Maffei. Aqui, Frei Luiz, a gente sempre vem à Casa e se sente plenamente à vontade, porque a primeira coisa que eles dizem é: “Fiquem à vontade aqui entre nós”, e não é a mim que homenageiam, mas aos Capuchinhos, tenho certeza disso, porque este hábito aqui é que leva a força e, quando nós o vestimos, ajuda muito pela história que nós temos. O Ver. Juarez Pinheiro lembrou o que ocorreu, a história, e é tão bom fazê-lo! É uma responsabilidade muito grande para nós, que se tivesse sido pouco feito ou nada feito, bom, aí qualquer coisa que a gente fizesse estaria bem, mas a história é grande, ou seja, o Ervino conta bem, conhecem bem: o Frei Luis Carlos e o Frei Avelino. Nós nos sentimos profundamente responsáveis para levá-la adiante, precisa fazer muito mais, empenharmo-nos muito mais. Muito obrigado, Vereador.

O Ver. João Carlos Nedel diz sempre, quando nos encontramos: “Cuidado com a doutrina social da Igreja, porque isso é muito importante, vamos levá-la todos juntos”. Cobra-me cada vez, mas é responsabilidade de todos nós também. A Ver.ª Maristela resgata a sua história pessoal de quão importante é a fé na vida, e que bom que a gente possa ouvir isso outra vez, mais uma vez, é um desafio para nós, a cada amanhecer, acordarmos com mais força, lá talvez nem sabendo bem o que se passa, mas sabendo que o Espírito de Deus pode atuar profundamente e transformando o coração das pessoas. Muito obrigado por este desafio, lembra-me o Frei Luiz Sebastião Turra, nosso Provincial, esse desafio que temos pela frente. E o pão, Vereadora, o pão veio também, que é o pão de São Francisco esse, claro. É o pão de Santo Antônio, mas que é discípulo de São Francisco, justamente nessa perspectiva de que seja distribuído, que seja partilhado, para que sejamos instrumentos da paz. É Deus que age em nós, mas nós queremos nos colocar a sua disposição. Onde está o pão? Vamos trazer o pão aqui, símbolo do compromisso de fazermo-nos pão, para que os outros sejam alimentados, particularmente nessa perspectiva da justiça raiz da paz. A paz pressupõe a justiça, a paz é uma tarefa permanente, a paz é fruto do amor e a paz é o próprio Cristo Príncipe da Paz. Vamos trazer os pães, aqui à frente, simbolizando o nosso compromisso ao partilhá-los, depois, mas antes a prece. Antes vamos dizer o que queremos realizar ao alimentarmo-nos desses pães. Os que tiverem a prece ou a sabem de cor, vamos tomá-la, colocando-nos de pé.

 

(Procede-se à oração de São Francisco de Assis.)

 

“Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz./ Onde houver ódio, que eu leve o amor,/ onde houver ofensa, que eu leve o perdão,/ onde houver discórdia, que eu leve a união,/ onde houver dúvidas, que eu leve a fé,/ onde houver erro, que eu leve a verdade,

onde houver desespero, que eu leve a esperança,/ onde houver tristeza, que eu leve a alegria,/ onde houver trevas, que eu leve a luz./ Mestre, fazei que eu procure mais

consolar do que ser consolado,/ compreender do que ser compreendido,/ amar do que ser amado./ Pois é dando que se recebe,/ é perdoando que se é perdoado,/ é morrendo que se vive para A VIDA ETERNA!” Amém.

Estendamos as nossas mãos sobre estes pães, porque é assim, com as nossas mãos que fazemos o bem, que mudamos o mundo. Então, Senhor Deus e Pai, abençoai estes pães que são o trabalho desses 100 anos de presença dos Freis Capuchinhos em Porto Alegre, mas que são também o nosso desejo de continuar partilhando nos próximos 100 anos. Dá-nos a Graça, Pai, de alcançá-los a todos, como símbolo da sobrevivência, da dignidade, da vida e da esperança. E que cada um de nós corresponda ao vosso amor, fazendo destes pães, partilha, construção da vossa presença entre nós. Da inclusão de todos, para que todos tenham espaço à mesa da vida da cidadania sobre todos vós, sobre todos aqueles que sonham com o mesmo ideal, e sobre estes pães, desça a copiosa benção de Deus que é Todo Poderoso. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Neste momento, depois de ter comido um pedaço do pão abençoado por Frei Irineu, espero que a bondade, a compreensão, a solidariedade façam com que o povo porto-alegrense seja muito mais feliz. O mundo, na realidade, precisa de compreensão, precisa de solidariedade. Eu agradeço a todos pela presença. Devo dizer que para a Câmara Municipal foi um momento extraordinário.

Convidamos todos os presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h56min.)

 

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